Uso de anabolizantes aumenta risco de câncer entre as mulheres


Corpo impecável, barriga menos zero, em compensação, voz grossa, crescimento de orelhas, nariz, clítoris. Esses são os resultados das mulheres que, na busca do corpo de deusas, caem na tentação do uso de esteroides anabolizantes.

Quando Fernanda (nome fictício para proteger a identidade da fonte) entrou na academia, queria definir o abdômen e manter o braço tonificado para dar tchau sem sustos. Com o tempo, ela também estabeleceu uma outra meta: tornear as coxas, ter corpo de panicat.
Amigas da academia sugeriram um ciclo com esteroides para alcançar a meta. Em poucos meses, ela já era uma mulher rã, como são conhecidas as mulheres que possuem coxas hipertorneadas, lembrando a estética do anfíbio. Em contrapartida, estava com a voz rouca e grossa, pescoço maior e com um incômodo: o crescimento dos lábios vaginais, que começou a gerar um constrangimento e infecções urinárias recorrentes.

Casos como o de Mariana são cada vez mais comuns e chamam atenção para uma prática perigosa que cresce entre as mulheres brasileiras: a busca do corpo perfeito por meio do uso de esteroides.

Hormônios
De acordo com a endocrinologista Cristiane Ferrari, é fundamental lembrar que todos esses produtos são derivados de hormônios andrógenos e que, em excesso, provocam mudanças irreversíveis no corpo. “No caso das mulheres, além de câncer no fígado, esse uso sem a prescrição correta levará ao crescimento de pelos no rosto (hirsutismo), voz grossa, aumento do clitóris e dos lábios vaginais, calvice, entre outros problemas”, alerta a médica, destacando que a autoaplicação pode gerar necrose e o apodrecimento da área. O uso de substâncias como o growth hormone (GH) também promove o crescimento das extremidades como nariz e orelha.

Pacientes com essas características terminam com a autoestima tão abalada que precisam recorrer à cirurgia plástica para voltar a fazer as pazes com o espelho. “A hipertrofia dos pequenos lábios geralmente é de origem genética, mas pode ser agravada pelo uso indiscriminado e contínuo de anabolizantes”, completa o cirurgião plástico Edvan Leite.
Para corrigir pequenos lábios hipertrofiados é realizada diminuição cirúrgica da área. “A cirurgia dura uma hora e o retorno às atividades pode se dar em três dias, mas as relações sexuais, entretanto, só estarão liberadas somente depois de um mês”, diz.
Cristiane Ferrari lembra que o uso de anabolizantes e hormônios de crescimento é indicado apenas para pacientes portadores de HIV, câncer ou desnutrição gravíssima, onde há uma necessidade de recuperação de massa muscular. “Esses pacientes, no entanto, só conseguem comprar os produtos nas farmácias levando duas vias do receituário e com o CPF do médico, ao contrário, desse outro público que se beneficia com a ausência de critérios do comércio na internet”, destaca a médica.

A nutricionista e professora universitária da Unime Fabiana Curvello afirma que para o trabalho muscular é necessário tomar cuidado, inclusive, com os suplementos alimentares. “A atividade física vai provocar uma lesão no músculo e o aminoácido vai construir o que foi lesado, gerando a hipertrofia muscular”, esclarece, pontuando que se os suplementos forem consumidos sem a demanda muscular, eles serão convertidos em gordura.
“Os suplementos possuem indicação específica e deve ser feita por um profissional da área, o ganho muscular pode ser conseguido com dieta adequada e com o consumo indicado de carboidrato para que o músculo tenha a energia suficiente para trabalhar aquela proteína”, esclarece a especialista.
Técnica

Com uma opinião parecida, o educador físico Julião Castello diz que a tentativa de conseguir resultados muito rápidos é uma armadilha que pode levar à morte. “Com a técnica adequada é possível alcançar os mesmos resultados obtidos com o uso de esteroides, demorará um pouco mais de tempo, mas os resultados serão definitivos e seguros”, completa o profissional, lembrando que se a atividade souber fazer a solicitação correta aos organelos celulares (as mitocôndrias), eles aumentarão de volume e tamanho.
O também professor de educação física e especialista em fisiologia do exercício Tiago Ameno lembra que o uso de substâncias à base de hormônios em ambos os sexos causa a diminuição do colesterol bom “HDL” e aumento do ruim “LDL”, além de alterar o comportamento, aumentando a agressividade; mexe com a tireoide; aumenta a incidência de problemas cardiovasculares; atrofia testículos nos homens; provoca perda de libido, infertilidade associada com impotência sexual permanente, surgimento de mamas nos homens chamadas de ginecomastia. “Usar essas substâncias é fazer uma ‘roleta-russa’ contra a vida”, finaliza Ameno.

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