Autismo: esporte é fundamental para a aprendizagem
Atividades físicas e
práticas esportivas oferecem um amplo repertório de experiências
sensório-motoras que colaboram com o desenvolvimento de diversas funções
cognitivos, tais como: memória e atenção – desde a infância até a idade adulta
– e beneficiam tanto crianças com desenvolvimento típico quanto – e
especialmente – aquelas com transtornos do espectro do autismo.
A incessante busca por
informações e métodos que contribuam para o bom desenvolvimento das crianças e
jovens diagnosticados com TEA – Transtorno do Espectro do Autismo, assim como
os crescentes estudos e pesquisas para encontrar caminhos que levem a um maior
entendimento de suas causas para, dessa forma, chegar a um lugar – hoje ainda
distante –, chamado cura, fazem parte do dia a dia dessas milhões de pessoas no
mundo todo.
Enquanto a cura não
chega, juntamente com as terapias de estimulação cerebral, que permanecem sendo
uma das principais ferramentas para controlar os sintomas e assegurar o
desenvolvimento das pessoas portadoras do TEA, ganham força as chamadas
experiências sensório-motoras, nas quais se incluem a música e a atividade
física e prática esportiva. No livro “Smart Moves:
Why Learning Is Not All In Your Head” (Movimentos Inteligentes: Por que a
aprendizagem não está toda em sua cabeça), escrito em 1995, pela
neurofisiologista e educadora Carla Hannaford, uma visão muito instigante do
papel do corpo no pensamento e aprendizagem mereceu a minha atenção. Citando
pesquisas sobre o desenvolvimento da criança, fisiologia e neurociência, a
autora trouxe à luz as maneiras pelas quais as experiências sensório-motoras
afetam diversos aspectos da nossa cognição, desde a infância até a idade
adulta, e concluiu que o movimento é crucial para a aprendizagem.
Como profissional e
pesquisador da área da Educação Física, encontrei neste argumento a inspiração
para a proposta, que já intuía, juntamente com minha esposa, Lucila Schliemann,
em sua prática clínica em fonoaudiologia, de oferecer atividades físicas e
esportivas para crianças visando contribuir com o seu desenvolvimento global.
Porém, quando nos
deparamos com o nosso primeiro aluno com TEA no desenvolvimento de nossas
atividades curriculares em nosso espaço, voltado para atividade física com
crianças e adolescentes, a percepção de que embora trabalhássemos com diversas
atividades visando o desenvolvimento motor, social, cognitivo e sensorial de
nossos alunos, estávamos diante de um novo e estimulador desafio e havia a
necessidade de buscar mais informações sobre como desenvolver essas habilidades
em crianças com transtornos de neurodesenvolvimento e, em especial com aquelas
acometidas pelo TEA. Essa foi a motivação para estudar com profundidade este
tema e proporcionar uma experiência exitosa para essas crianças de tal forma a
incluí-las efetivamente nas atividades oferecidas.
Dessa forma, acabei
realizando meu trabalho de conclusão de curso de educação física, pela Unicamp
– Universidade Estadual de Campinas, através de uma monografia sobre as
estratégias de inclusão esportiva de crianças autistas, em que procurei abordar
os benefícios da atividade física para o desenvolvimento global das crianças
autistas e indicar caminhos para sua inclusão gradativa no universo das
práticas corporais e esportivas.
A esse primeiro trabalho
seguiram-se outros estudos mais específicos sobre atividade física e autismo,
trabalhos apresentados em congressos científicos, e hoje desenvolvo um projeto
de pesquisa na Escola de Educação Física da USP voltado para avaliação dos
efeitos do foco de atenção na aprendizagem motora de crianças com TEA.
A paixão pelo esporte
sempre esteve presente na minha vida desde a infância, por meio dos campeonatos
de futebol aos domingos no antigo clube Interlagos em São Paulo, com a
participação nos programas de atividades físicas e recreativas, oferecidos pelo
SESC (Dr. Vila Nova/SP) e como atleta de voleibol das categorias de base
(pré-mirim ao juvenil) do Club Athletico Paulistano.
Apesar de todo esse
envolvimento com o esporte, o início de minha vida universitária e profissional
se deu pelo curso de Engenharia, profissão que exerci por 20 anos. Ainda assim,
durante todo o período da faculdade estive ativamente envolvido no esporte
universitário como atleta e como dirigente da Federação Universitária Paulista
de Esportes (FUPE). Em 2007, no entanto, decidi dar vazão a essa vocação e
iniciei o curso de Educação Física.
E esse caminho – da
educação física ao desenvolvimento infantil– tem me levado a experiências e
descobertas incríveis sobre o poder do movimento na aprendizagem das crianças e
jovens e o quanto isso pode contribuir no desenvolvimento daquelas
diagnosticadas com TEA.
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