A importância do professor de educação física escolar em busca do desenvolvimento de uma cultura esportiva
É interessante o uso
quase restrito da periodização para os esportes de competição e alta
performance. Contudo é necessário compreender que a aplicação da periodização
pode e deve ser utilizada em ambientes que extrapolem a competição e que
estejam além de objetivarem como produto final o resultado na competição. De
forma muito singela e simples, o objetivo da periodização é o desenvolvimento
das capacidades e habilidades físicas e sua organização no tempo como o
objetivo da excelência visando o resultado esportivo. Mas é apenas isso? Não
seria importante sua aplicação de forma sistematizada em ambientes como a
academia, na atividade física regular, e mesmo, na escola?
Vou me concentrar no
caso da escola, que é o mais espinhoso a ser trabalhado. Podemos pegar qualquer
um dos estudiosos que trataram do desenvolvimento na infância e adolescência e
das fases de maturação, das valências físicas e da aprendizagem motora para
encontrarmos uma série de congruência entre elas; preliminarmente, do outro
lado do campo, temos as ciências do treinamento apontando que há uma
organização e ordem para o melhor desenvolvimento físico-motor desses mesmos
aspectos, buscando prioritariamente um outro fim. Contudo, por que não
aproveitar os pontos de sinergia? Poder-se-ia simplesmente associar o
planejamento das aulas de EF como sendo a própria periodização…, mas,
efetivamente, o planejamento da aula de EF visa a excelência das habilidades
motoras e físicas? Ficando apenas nesse primeiro plano.
Quando planejamos as
aulas elas estão estruturadas dentro de um microssistema, considerando a aula
por analogia uma sessão de treinamento, voltada claramente para um processo
pedagógico de determinada habilidade, visando a transferência dessa habilidade
para as atividades subsequentes, a associação com exercícios mais complexos na
mesma aula (sessão), com as atividades da próxima aula, no próximo mês, no
próximo ano? De forma factual, há diferença entre a busca da excelência no
esporte de rendimento e na escola? A resultante pode até ser distinta,
entretanto, a periodização em essência visa a qualidade das atividades, visando
um resultado futuro. E qual é o resultado futuro das aulas de educação física?
Quais são os parâmetros de desenvolvimento para cada ano escolar? Quais são os
índices das valências físicas para essas fases? Quais são os indicadores a
serem monitorados ao longo dos anos escolares? É no mínimo temerário não haver
um controle sistemático do desenvolvimento de todas as etapas e dos indicadores
de desempenho motor e das valências física. Isto sem adentrar especificamente nas
questões psicossociais.
Ou adotamos que o que é
mais importante são os aspectos subjetivos do desenvolvimento em detrimento aos
objetivos. De fato, são as duas formas, ambas devem estar delineadas e
sistematicamente monitoradas. Como saberemos o que podemos esperar da condição
desses fatores nas outras fases do ciclo vital? De forma resumida o que quero
dizer é que a escola também tem de ter de forma pormenorizada as atividades e
os objetivos aplicados a cada aula, sua conexão com as demais aulas, com as
fases de desenvolvimento da criança e adolescente, bem como, o que queremos que
esses jovens carreguem para todo o ciclo vital. E não basta o desenvolvimento
de um cronograma de aula e o objetivo principal, quais são as atividades de
forma pormenorizada, quais seus efeitos imediatos, de curto, médio e de longo
prazo? E nisto os princípios da periodização poderiam auxiliar nesse
planejamento. Há evidências vastas na literatura das fases de latência das
capacidades físicas, assim, elas são respeitadas? Num período de latência do
desenvolvimento da velocidade, estaremos concentrando nosso planejamento para
potencializar essa valência, obviamente não em detrimentos das outras, mas com
ênfase nela.
Deve-se constar que não
há a possibilidade de desenvolvimento de uma cultura esportiva e de uma
política sem que ela seja semeada no ambiente escolar. Pode-se olhar para o que
está escrito até aqui e apontar para uma leitura tecnicista, contudo, o que
objetivo é apontar que mesmo num ambiente escolar que o resultado final
necessariamente não é a competição voltada ao resultado esportivo, mesmo essa
devendo ser parte do ambiente escolar. Esta sistematização pode e deve incluir
o lúdico, os jogos cooperativos e demais estratégias. O que ressalto é que não
deve ser uma opção por sistemas, é a integração de sistemas; não é sistema A X
sistema B, e sim, como fazer para que sistema A e B trabalham juntos em um
objetivo comum que é o desenvolvimento dos jovens.
Post a Comment